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Projeto solta a rima: com empatia e respeito, o racismo não vai à escola

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1. APRESENTAÇÃO

De tempos em tempos, assistimos através dos meios de comunicação ou mesmo presenciamos cenas lastimáveis de racismo. É sabido que essa prática preconceituosa está arraigada na cultura brasileira e, infelizmente, é um balizador das relações sociais, sobretudo as de poder.

No contexto escolar, essa realidade não é diferente. É comum presenciarmos nas relações cotidianos dentro da escola e da sala de aula palavras, expressões e atitudes que evidenciam o “gérmen racista”. Essa forma de preconceito ocorre tanto por parte dos professores, funcionários e, claro, dos estudantes. A priore, ela gera um desconforto, sobretudo, quando praticadas pelos profissionais da educação. Contudo, faz-se necessário compreendê-la dentro do contexto social e histórico brasileiro, marcadamente racista, mesmo na sua forma explícita e/ou velada. Desse modo, é salutar que se tenha a compreensão que essas práticas são comuns em uma sociedade estruturalmente construída e mantida dentro dessa lógica excludente e preconceituosa.

Diante disso, faz-se necessário que a escola exerça sua função formadora de cidadãos críticos e aptos ao convívio social harmônico e, assim, promova espaços de formação e de debates sobre a temática do racismo, de modo que ela exerça sua função social e desenvolva nos estudantes de forma intencional as competências socioemocionais de empatia e respeito, contribuindo, assim, para a construção de relações respeitosas e empáticas dentro e fora do espaço escolar.

Para isso, esse projeto partirá de um gênero musical presente da vida de muitos jovens negros e periféricos: o rap. Mais precisamente, o trabalho com a música Ismália, do rapper Emicida. Nela o autor dá uma nova roupagem ao poema Ismália, de Alphonsus de Guimarães, e cria uma obra poética, musical e de crítica social ao racismo na sociedade brasileira.

Com essa abordagem, busca-se partir de uma proposta de Estética da Recepção, baseada na produção artístico-literária do Emicida e de outros artistas do gênero e, com isso, levantar o debate sobre as diversas formas de manifestação do racismo nas relações sociais vivenciadas ou não pelos estudantes.

Desse modo, trabalharemos de forma intencional e focada duas competências socioemocionais: a empatia e o respeito, presentes na macrocompetência Amabilidade e espera-se construir um senso crítico nos estudantes sobre esta problemática social e histórica da sociedade brasileira.

2. OBJETIVO GERAL

  • promover um espaço de diálogo sobre o racismo e suas consequências nas relações sociais dentro e fora da escola com os estudantes das turmas de oitavo ano e, com isso, trabalhar de forma intencional a macrocompetência amabilidade, focando nas competências socioemocionais empatia e respeito.

3. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

  • promover o debate em sala de aula sobre a temática do racismo e o seu impacto na sociedade, através da apreciação estética das letras de rap e, assim, trabalhar as competências socioemocionais empatia e respeito em sala de aula;
  • incentivar a fruição estética, baseado na ideia da Estética da Recepção, através da apreciação tanto das letras como das músicas de rap;
  • construir um espaço de vivência e trocas de experiências sobre as consequências sociais do racismo nas relações pessoais e interpessoais;
  • possibilitar o acesso dos alunos às produções artístico-culturais de pessoas negras e periféricas e, assim, mostrar exemplos de superação;
  • contribuir para uma formação crítica dos estudantes através da reflexão crítica sobre os diversos tipos de preconceitos sociais;
  • promover o trabalho em grupo e incentivar a criação de produções diversas (rap, cartazes, poemas, intervenções, paródias etc) que servirão de base para a culminância do projeto.

4. JUSTIFICATIVA

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) expõe em seu texto que é necessário promover uma educação integral que enxergue o indivíduo na sua complexidade. Assim, faz-se necessário que as práticas educativas possibilitem vivências que evitem fragmentar os sujeitos. A escola precisa, então, promover práticas educativas que favoreçam tanto o desenvolvimento cognitivo como o desenvolvimento socioemocional.

Além disso, o espaço escolar precisa promover práticas pedagógicas que colaborem para a formação crítica dos estudantes e ajudem na redução de atitudes preconceituosas e excludentes na escola.

Nesse contexto, em um primeiro momento, esse projeto se justifica como uma proposta pontual, porém necessária para a promoção do diálogo e reflexão crítica sobre as práticas racistas dentro dos espaços escolares, sobretudo na sala de aula. Espera-se, assim, que os estudantes reflitam tanto sobre suas práticas racistas como também aprendam a reconhecer situações e atitudes dessa natureza.

Em um segundo momento, esse projeto se torna relevante por tentar construir um senso crítico nos estudantes trabalhando de forma interdisciplinar as competências socioemocionais empatia e respeito utilizando-se de um produto cultural presente na realidade deles: o rap.

5. PÚBLICO-ALVO

Este projeto foi elaborado pensando no público-alvo os estudantes das turmas de oitavo ano de uma escola em Sobral–CE. Esse público reside em uma comunidade periférica da cidade e observa-se cotidianamente nas relações dentro e fora da sala de aula algumas práticas racistas por parte de alguns estudantes. Assim, faz-se necessário um trabalho de reflexão crítica e construção coletiva de um espaço de respeito, empatia e afeto nas relações. Mesmo tendo em vista, em um primeiro momento essa escola, o projeto pode ser relevante para outras escolas e contextos nacionais.

6. RECURSOS

  • Materiais: notebook, datashow, caixa de som, coletânea de textos impressos para cada estudante, cartolinas, pincéis, revistas, vídeo das músicas.
  • Humanos: alunos e professor.

7. METODOLOGIA

A execução do projeto dar-se-á em quatro etapas, nas quais o professor desenvolverá ações em sala de aula que possibilitará a criação de espaços de debate com os estudantes, conforme detalhado a seguir:

7.1 Intervenção 1

A intervenção 1 será o primeiro momento de execução da proposta e seguirá o passo a passo a seguir:

  • uma breve apresentação do projeto e seus objetivos, buscando sensibilizar e engajar os estudantes;
  • uma breve exposição sobre a importância do desenvolvimento das competências socioemocionais para a formação integral dos indivíduos;
  • perguntas norteadores iniciais, tais como: o que é racismo? Você já praticou ou presenciou cenas racistas? Quais as consequências emocionais para uma pessoa vítima de racismo? Você já presenciou cenas racistas na escola?
  • perguntas norteadoras sobre o rap: você sabe o que é rap? Conhecealgum rapper? Conhece o rapper Emicida? Conhece algum rapper sobralense? Nessa etapa, o professor deverá explicar que a base inicial da abordagem sobre o racismo será a partir de uma música do Emicida;
  • o professor trabalhará o texto 1 “Biografia do Rapper Emicida” e o vídeo do texto 2 “Quem é Emicida?” com os estudantes, presente na coletânea de textos no tópico intervenção 1. Em seguida, promoverá um debate sobre a importância da existência de personalidades negras e periféricas fazendo sucesso;
  • como proposta de atividade o professor pedirá que os estudantes pesquisem outros nomes de artistas ou mesmo outros profissionais negros que possuem destaque social, tanto na cidade dos alunos como no país.

Essa primeira intervenção procurará levar os estudantes a perceber que, apesar de já notarem que há uma mudança na estrutura social em relação à ocupação de pessoas negras nos mais variados espaços sociais, ainda percebe-se que há uma discrepância nesses dados. Com isso, o professor introduzirá a proposta do projeto e mostrará que em alguma medida as relações sociais são marcadas por herança do racismo estrutural.

7.1 Intervenção 2

A intervenção 2 será o segundo momento de execução da proposta e seguirá o passo a passo a seguir:

  • o professor trabalhará o texto 1 “Ismália (part. Larissa Luz & Fernanda Montenegro)”, de Emicida e o texto 2 “Ismália”, de Alphonsus de Guimaraens, com os estudantes, presentes na coletânea de textos no tópico intervenção 2. Essa leitura inicial tem como objetivo que os estudantes conheçam os textos, identifiquem sua temática e, principalmente, percebam com ou sem a ajuda do professor que a música do rapper Emicida faz uma releitura do poema Ismália, de Alphonsus de Guimaraes, tecendo uma reflexão sobre o racismo.
  • a turma fará um debate regrado e incentivado pelo professor sobre as reflexões sobre o racismo presente nos textos. Em seguida, o professor pedirá que os estudantes debatam e reflitam sobre essas práticas racistas no cotidiano deles.
  • o professor questionará sobre a importância do respeito e da empatia nas relações, trabalhando intencionalmente essas competências socioemocionais.
  • nesse momento, o professor colocará o clipe da música Ismália (part. Larissa Luz & Fernanda Montenegro) para os estudantes assistirem;
  • como preparação para a intervenção 3, o professor pedirá que os estudantes pesquisem frases, imagens, canções que tenham como tema o combate as práticas preconceituosas racistas e tragam na próxima aula para que confeccionem alguns trabalhos em sala de aula.

7.3 Intervenção 3

A intervenção 3 será o terceiro momento de execução da proposta e seguirá o passo a passo a seguir:

  • os estudantes, organizados em equipes de até cinco integrantes, produzirão cartazes, paródias, poemas, declamações de poemas ou outras formas de intervenção contrárias as práticas racistas.
  • Culminância
  • as turmas farão uma exposição dos trabalhos produzidos e os exibirão para os demais integrantes da comunidade escolar. Esse momento poderá ser no intervalo da escola ou em outro momento oportuno organizado pelo professor e os estudantes.

8. CONCLUSÃO

Espera-se com a aplicação deste projeto construir um espaço de diálogo, reflexão e ação crítica no mundo por parte dos estudantes, no qual a “rima que se professa” seja balizada pela empatia e o respeito das relações sociais e que possamos construir uma sociedade na qual o pensamento da filósofa Ângela Davis aponta: “Numa sociedade racista não basta não ser racista, é preciso ser antirracista”.

9. REFERÊNCIAS

EMICIDA. Ismália (part. Larissa Luz & Fernanda Montenegro) https://www.letras.mus.br/emicida/ismalia-part-larissa-luz-e-fernanda-montenegro/. Acesso em: 17 out. 2021.

GUIMARAENS, Alphonsus de. Ismália. http://www.poesiaspoemaseversos.com.br/ismalia-alphonsus-de-guimaraens/. Acesso em: 17 out. 2021

INSTITUTO AYRTON SENNA. Competências socioemocionais [livro eletrônico]: a importância do desenvolvimento e monitoramento para a educação integral / [organização Catarina Possenti Sette, Gisele Alves] – São Paulo: Instituto Ayrton Senna, 2021.

INSTITUTO AYRTON SENNA. As 10 competências gerais da BNCC e as competências socioemocionais. Disponível em: https://bityli.com/TzkMT. Acesso em: 15 out. 2021.

INSTITUTO AYRTON SENNA. Ideias para o desenvolvimento de competências socioemocionais: amabilidade. Disponível em: https://bityli.com/Disgd. Acesso em: 15 out. 2021.

POLITIZE. O que é racismo estrutural. Disponível em: https://bityli.com/Hd3oZf. Acesso em: 15 out. 2021.

Baixe o projeto completo aqui, incluindo o anexo com textos para as atividades de intervenção.

Por: Paulo Ricardo Mesquita Moreira.

Recurso Educacional Aberto produzido durante a disciplina “Multiletramentos, Multimodalidade e Recurso on-line” do Curso de Especialização em Língua Portuguesa: Teorias e Práticas de Ensino de Leitura e Produção de Texto, da UFMG, em 2021/2.

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